terça-feira, maio 20, 2008
Ramone, A menina de unhas alvinegras e o Cara mais malvado do mundo
Uma noite como outra qualquer, caçando o que comer, fugindo dos mal intencionados.
Já passava da meia noite, quando vejo esses três vindo na minha direção, eles pareciam pessoas bem legais.
Eu segui eles e fui muito bem recebido, eles inclusive me chamavam de Ramone, só mais um nome na imensa lista que eu angariei nesses anos todos. Nomes como: Totó, Auau, Rex, Psiu (desse eu gostava), sempre fizeram parte da minha vida e esse era bem diferente.
Eu os segui por mais ou menos 2Km, até chegarmos em uma parada de carros, lá eles me deram sanduíche de carne, água (eu conseguia ter mais sede do que eles todos juntos) e o prazer de ouvir boas risadas.
Infelizmente eu fui criado nas ruas e se você conhece essas ruas, você sabe que não da pra confiar muito nesses humanos.
Foi nessa hora que meu instinto falou mais alto e num ato de auto-defesa eu abocanhei aquela mão com unhas alvinegras.
Eu não queria machucar, juro. Se quisesse eu teria conseguido. Eu só não queria aqueles dedos dentro dos meus olhos remelentos.
Ainda assim eu consegui um lar.
Acreditem eu consegui um lar, depois de anos morando e me criando nas ruas sujas de São Paulo.
Dentro desse lar a alegria era maior ainda, tinham várias pessoas, era quentinho, eu ganhei uma caminha, uma bolinha pra morder e tudo que eu sempre imaginei que seria uma vida perfeita.
Dava pra perceber que uma pessoa ali se incomodava com a minha presença, ele me olhava com desconfiança enquanto eu me esbaldava, deitava e rolava.
Logo eu pressenti algo ruim e me aproximei da garota de unhas alvinegras, ela parecia gostar mesmo de mim, talvez ela me salvasse daquele cara feio que me olhava cada vez mais desconfiado.
Então eu quis animar o clima, comecei a latir e correr, mas minha amiga já tinha dormido.
Literalmente me vi no mato sem um Humano.
Veio um convite para um passeio, me animei muito com isso.
Realmente acho que meus latidos deram resultado.
A porta se abriu, entrei no elevador e jurei pra mim mesmo que seria um cão fiel e não precisaria de coleira pra me manter ao lado dos meus novos amigos.
Fomos até a parada de carros novamente, esperei eles na porta e na saída voltamos pra minha nova casa.
Chegando em casa... todos eles entraram e me expulsaram de lá, não me deixaram entrar, eu fiquei assustado, não entendi nada, eles entraram e não me deixaram entrar. Por quê?
Eu ainda fiz aquele olhar que comove a todos, mas eles fingiram não ver, eu comecei a latir, na verdade eu queria gritar: "Cadê aquela garota de unhas alvinegras?"
"Por favor não me deixem voltar para aquela vida ingrata".
Não adiantou.
Eles subiram e eu fiquei ali parado na porta por uns 20 minutos, na esperança de que alguma coisa pudesse mudar.
Eu não sei o que foi que eu fiz.
Acho que aquele cara feio, ficou muito bravo com a mordidinha que eu dei na menina.
Ele realmente foi muito ruim comigo. Ele me deu o que eu mais queria e tirou isso de mim em 2hrs.
Felicidade de pobre dura pouco.
Continuei minha busca por abrigo, naquela noite fria e espero mesmo que aquele cara se arrependa muito pela crueldade que ele me fez.
Ass.
Ramone (Totó, Rex, Fiufiu)
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