sexta-feira, fevereiro 27, 2009

A Cigana

Sexta-feira, 07:39hs

Acordei com um sol escaldante na cara, olhei a minha volta e só encontrei as várias latinhas de cerveja espalhadas pela sala.
A TV despertou em algum canal fora do ar no último volume.
Rrrshrrrshrrrsh...

Nada como acordar irritado no último dia da semana de trabalho.

Desliguei a TV, fui a cozinha e achei um resto da garrafa de Vodka que eu jurava ter matado na noite passada, no cinzeiro um cigarro pela metade, devidamente aceso para acompanhar aquele maldito gole que me ajudou a fazer uma cara mais feia ainda.
Melhor café da manhã, impossível.

Corri pro banho e deixei um café sendo preparado na cafeteira.
Café e cigarro aliás são o melhor laxante do mundo.
Esqueçam as Ameixas.

Toalha enrolada na cintura, cueca pendurada na janela do banheiro.
Toalha jogada na cama, cueca ainda na janela do banheiro.

Ninguém para se queixar.

Abri a porta, recolhi o jornal e descobri que meu time havia empatado heroicamente.
O horóscopo, diz que não é um dia pra se deixar levar por emoções baratas.

Foda-se o Quiroga!

Um ônibus lotado até a avenida Paulista.

Uma garota muito interessante me observa.
Ela não tem cara de quem está afim de ir pra aula hoje.
Me sento ao lado dela. Ela encosta sua perna na minha, logo displicentemente encosta sua mão na minha coxa.

Sem hesitar a convido pra descer do ônibus.
Ela aceita, como se já me conhecesse há tempos.

Caminhamos até uma padaria.
Pedi um café e pão com manteiga, ela pediu uma laranjada com kibe.

Enquanto o balconista preparava o café da manhã (o meu segundo), corremos para o banheiro.

Eu a beijei com tanta força que senti, entre uma mordida e outra nos seus lábios, um pouco de sangue.

Levantei sua mini-saia e arranquei sua calcinha.
A virilha bem depilada, pêlos bem aparados e um bafo quente irresistível.

Botei meu pau pra fora e enfiei bem no meio.
Ela já estava molhada.
Encharcada.

Nada me importava, nem mesmo o horário do meu serviço.

Empurrava forte, enquanto ela gemia baixinho e pedia pra encher a boceta dela com meu suco.

Pedido feito.
Pedido concedido.

Tudo muito rápido.
Ela saiu primeiro e eu fiquei mais um pouco, pra me recuperar daquela surra.

Olhei no espelho.
Arrumei meu cabelo. Sequei o suor da testa e voltei pra mesa.

-A menina foi embora e pediu pra você ligar pra ela.
Disse o balconista, me entregando um papel com um telefone.

Pedi para que embrulhasse o café para viagem.

Cheguei ao trabalho, exausto e atrasado.
Pra minha sorte minha chefe não estava.

Sentei e fiquei tentando entender o que tinha acontecido.

Hora do almoço.

Pego mais um ônibus lotado e vou até o Centro, pagar uma conta que estava atrasada.
Coisa rápida.

Na volta passo na Pça da Sé e uma maldita cigana me aborda, puxando minha mão.

- O Sr° gostaria que lesse a sua mão? Eu te darei dois nomes de pessoas que não gostam do Sr° e se o Sr° gostar, me paga R$ 2,00?
- Querida, duas pessoas é muito pouco. Tenho uma lista enorme de desafetos... Aliás, qual seu nome?
- Carmen.
- E o da sua amiga ali?
-Consuelo.
- Ótimo. Carmen e Consuelo eu odeio vocês duas. Considerem-se vocês, as duas pessoas que eu ainda não sabia que me odeiam. Passar bem!

Ela gritou alguma coisa, que eu juro que não entendi.

Voltei ao trabalho.
As horas voaram.

Logo eram 18hs.

Peguei minhas coisas, desliguei o computador e liguei pro número que aquela garota me deu de manhã.

Ela atendeu com uma voz suave, delicada e me convidou pra ir pra sua casa.
Me passou o endereço e me explicou como chegar.

Peguei mais um ônibus lotado e em meia hora já estava no portão da sua casa.

Perguntei seu nome.

-Gabriela e o seu?
-Rafael, mas pode me chamar de Pim.


Então ela me convida pra entrar.

Entramos na sua casa.
Um cheiro de incenso e uma música flamenca tocava bem baixinho no som da sala.
Rumamos até a cozinha.

-Papai! Esse é Rafael. Foi ele quem me engravidou.

O Velho me olhou enfurecido e pegou uma faca.
Levantou e veio em minha direção.

Eu não sabia o que fazer e comecei a rir daquela situação.

Ele me ameaçou dizendo que eu deveria casar com sua filha urgentemente.

A menina chorava. Ela merecia o Oscar, ou melhor, o Framboesa de Ouro.

O velho começou a suar e olhou torto, deixou o facão cair no chão e pôs a mão no peito.

A menina então começou a rir de tudo aquilo.

-Ta ai seu velho Filho de uma Puta, esse é o seu castigo por ter me usado e me abusado todos esses anos desde que mamãe morreu.

O velho não conseguia falar nada, só gemia.

Eu aproveitei a situação, sai da cozinha sem ser percebido e chamei uma ambulância, enquanto me caminhava pra porta de saída.

-Rafael? Volta aqui agora.

Ela percebeu minha fuga.

Veio atrás de mim, caminhando calmamente com uma pequena adaga na mão e disse:

- Obrigado por me livrar desse merda. Você é mesmo um homem encantador e sabe muito bem como comer uma mulher. Apareça quando quiser.

Me deu um beijo e abriu a porta.

Agradeci seus elogios e sai o mais rápido que eu pude daquele bairro.

Nunca mais peguei aquele ônibus e nunca mais a vi novamente.

A não ser pela manchete no dia seguinte, de um desses jornais sangrentos, que todos adoram se aglomerar para ler na banca de manhã.

"Menina Cigana esquarteja o pai e enterra restos no quintal".

terça-feira, fevereiro 24, 2009

O dia em que matei o Carnaval

É Carnaval!

Do meu lado, isso significa música ruim, depravação, maré cheia de "sereias".
O Carnaval faz com que eu me sinta uma latinha de cerveja na mão de um bêbado.
Todos somos objetos prazerosos nas mãos uns dos outros.
A superficialidade é o que impera.
O que me incomoda é o mundo parar por conta dessa porra de festa carnal.
Putaria é feita o ano inteiro, mas parece que nessa época as pessoas tornam isso prioridade.
Depois todos compram Pozato e seguem a vida como se nada tivesse acontecido.

Dia desses fui a um baile de Carnaval na praia. Fiquei na barraca com uns amigos esperando a festa acabar pra podermos tocar violão e tomar cerveja sem sermos incomodados pelas malditas marchinhas.

Horas depois, bêbado, e de saco cheio daquilo tudo, aparece um garoto chorando. Ele havia se perdido dos pais.
Anotamos o nome dele num papel e uma das garotas da "roda" levou o nome p-ara anunciarem no palco.
3 músicas se passaram e ninguém anunciava o menino.

As garotas ao redor dançavam como se estivessem em algum tipo de ritual pagão de acasalamento, os homens pareciam cachorros rodeando um churrasco, esperando um pedaço de carne cair no chão para poder comer.

Aquilo me irritou demais... sai andando em direção ao palco, passei por todas aquelas pessoas suadas, espremidas e cheguei em frente ao palco.

Chamei a atenção do vocalista da banda, para que ele pudesse anunciar.
Ele me olhava e fingia que não era com ele.
Ao terminar a música, ele me olha e começa a cantar:
"Eu era um Bêbado/ E vivia drogado..."
Puxei um isqueiro que estava no bolso, queimei a corda de isolamento do palco e platéia e subi no local de trabalho do rapaz.
Ele usava um óculos vermelho horroroso e seu suor fedia a Km de distância.
A música parou, andei em sua direção e ele foi recuando, eu escutava o público me vaiando, me senti um astro do rock em decadência, uma espécie de Elvis Presley na fase Las Vegas, quando ele tocava pra donas de casa com suas sacolas de mercado.

Nisso recebi uma chave de braço e a multidão inteira aplaudiu.
Era um negão de quase dois metros de altura.
-Irmão, sai do palco.
-Hey, eu não sou seu irmão. Olha tua cara e olha minha. Não sou teu irmão porra nenhuma. Só que tem um garoto chorando na barraca faz meia hora e ninguém anunciou o pivete até agora.
-O nome é esse aqui? Já recebemos o papel e vamos anunciar.

Mais uma vez, aquilo me irritou e eu subi de novo no palco. Dando por assim , encerrado o espetáculo.
Me lembrei dos tempos de shows Punks e mergulhei no público, voltando de mansinho pra barraca onde eu estava.

O show acabou ali mesmo, o que foi ótimo.

Chegando na barraca, a mãe do garoto, completamente bêbada, estava lá, aos berros com ele:
- Seu estúpido! Onde você se meteu? Eu estava ali dançando, você precisava fazer isso tudo? Era só não sair por aí correndo que nem bicho.

O moleque chorava mais ainda.

Minha vontade era de meter um tapa na fuça daquela louca varrida.
Mas me contentei em dizer:
-Bom querida! Pega seu filho e sai daqui agora. Os dois.

Escutei um "escroto", como agradecimento e acendi um cigarro.

Abri mais uma latinha de cerveja, com o sentimento de dever cumprido.
Na verdade eu me senti o Hancock, mas tudo bem.

Alguns acordes na viola e milhares de olhares de reprovação depois, encerrei mais uma noite de carnaval convencido de que realmente não nasci pra achar a menor graça nessa porra toda.

Talvez devesse ter ficado em casa assistindo os desfiles pela TV.
Mas hoje em dia eu prefiro ver um filme pornô.

Skindô, Skindô para todos!