quarta-feira, outubro 29, 2008

Consórcio da Morte (Suicídio Parcelado)

03:30 da manhã.
Eu havia passado a noite inteira em um baile Black Hip Hop.
Me sentindo um braquelo perdido no meio daquela galera Black Power, não tentei arriscar nem ao menos um passo sequer.
A cerveja descia gelada, cada gole um pensamento, sejam eles bons ou não.
Uma hora pensava na cara de safada de uma garota que dançava e encarava a todos (exceto eu, óbvio) com aquele olhar de quem está pedindo pra ser arrastada pro banheiro, em outra pensava em coisas inúteis como a descoberta que fiz nesses últimos dias.

Descobri que existe o suicídio normal, clássico que consiste em giletadas, saltos, armas de fogo e existe o Consórcio da morte ou melhor o suicídio parcelado.
No suicídio comum você faz e tá feito e o parcelado são para aquelas pessoas que não tem a mesma condição suicida de outras e prefere se acabar noite após noite, bebendo, cheirando a via láctea inteira, queimando os campos do reino do senhor e engolindo jujubas.

Foi nessa hora em que percebi que nunca quis a merda do suicídio normal, muito menos o parcelado e que de certa forma eu já estava pagando por esse consórcio.

Dei mais um gole na cerveja, mas minha garganta se fechou e todo aquele líquido amarelo foi expelido pra fora da minha boca como se fosse vômito.
Cambaleei até a porta da saída, comprei um hot dog e resolvi voltar pra casa, filosofando sobre como eu não havia percebido que estava pagando o tal consórcio da morte.

Descobri que não estava mais chorando por causa de nenhuma gazela, de nenhuma merda que possa ter acontecido e ficado esquecida "in the back of my mind".
Entendi que tudo o que aconteceu me fortaleceu demais e então ao chegar em casa, finalmente, sentei no sofá, acendi um cigarro e encostei a cabeça...
Tudo rodava muito e era divertido demais pra eu me preocupar com alguma coisa.

Minutos depois acordo com um cheiro horrível de queimado.
Tinha esquecido o cigarro aceso, cochilei e fiz um buraco no sofá branco.
Encarei isso como uma taxa de quebra de contrato.
Quebra de contrato com o Consórcio da Morte.

sábado, outubro 25, 2008

Outta' time

" I'm outta' time"

Here's a song
It reminds me of when we were young
Looking back at all the things we'd done
You gotta keep on keeping on

Out to sea
It's the only place I honestly
Can get myself some peace of mind
You know it's getting hard to fly

If I'm to fall
Would you be there to applaud
Or would you hide behind them all?
'cos if I am to go
In my heart you'd grow
And that's where you belong

Guess I'm outta' time

terça-feira, outubro 21, 2008

Todas as Noites

Entrou em casa sem fazer muito barulho, era como se sentisse preso, amordaçado.
Começou a gritar e quebrar o amplificador que havia ganho de seu pai. Arremessa-o pela janela e então vai até a geladeira.
Pega uma cerveja, pressiona o bocal e abre a garrafa no antebraço, logo dando um longo gole. Senta e acende um cigarro, dando uma bela tragada no seu Marlboro vermelho.

"...So here I am,doing everything I can
holding on to what I am, pretending I'm a superman
I'm trying to keep the ground on my feet
it seems the world's falling down around me
The nights are all long and I'm singing this song
to try and make the answers more than maybe." (Superman- Goldfinger)

Pega o violão encostado no canto da sala, abandonado havia meses e começa a arranhar algumas notas na esperança de compor alguma coisa, mas nada surge.

Um papel, uma caneta e só desenhos bizarros.

Lembra de um mergulho na praia e de que como olhava pro fundo e só via imagens de gente morta no fundo do mar.
Recorda boas sacanagens feitas no mar e de como sempre teve medo de que o seu sêmen atraísse tubarões (isso de certa o excitava bastante).

Vai ao banheiro, passa um pouco de condicionador no pau e começa a se masturbar.
Puramente físico. Mecânico.
Goza loucamente, derramando seu suco no chão do banheiro.

Deita no sofá e aguarda o sono, perdendo as contas dos carneirinhos que pulam a cerca.

Adormece!

domingo, outubro 12, 2008

Let the Rage Take Control

Caso alguém ainda esteja lendo isso aqui... lá vai.

Por todos os problemas que passei nos últimos dias, eu me torno a cada semana uma pessoa diferente.
Minha última encarnação é na forma de uma pessoa odiosa.
Tento me tornar o ser mais desprezível do mundo, como forma de limpeza.
Uma vez que me torno um escroto, só ficarão comigo pessoas que me amam incondicionalmente e me entendem e os que se aproveitam de algum privilégio que eu possa oferecer com certeza desaparecerão.
Outro motivo pra me tornar esse lixo de pessoa foi ela.
Ela quer se tornar uma pessoa amada por todos, quer ser aceita, quer se redimir da cagada que ela fez comigo.
Faz juras de amor tão tolas que me dão ânsia, mensagens tão pré-fabricadas quanto os cartõezinhos de Dia dos Namorados, vendidos em qualquer posto de gasolina.
Isso me enfurece!
Na última vez que nos vimos, ela me beijou.
Foi um beijo triste, amargo e cheio de culpa.
Isso tudo me encheu de uma fúria incomparável.
Por tudo que vivemos, eu sempre achei que nosso final seria digno, respeitoso e doloroso para ambos e de tanto me perguntar o porque de tudo isso eu descobri o ódio.
Não o ódio por ela ou por ele.
Como vou odiar uma pessoa que aparenta ser um nerd virgem de algum remake de American Pie feito em algum país da America Central?
Fico feliz por ele, com certeza vai aprender alguns bons truques nesse relacionamento e por ela que com certeza conseguiu sua auto-afirmação.
O que eu procuro é ódio de todos por mim.
Quero ser digno de receber um golpe desses.
Quero ser odiado pra que toda essa situação que estou passando seja justificada.
Sim me ODEIEM!
Eu não to nem aí!
Eu sou o garoto Punk Rocker, eu sou o rapaz que acredita que "everybody has a Poison Heart", eu sou o bêbado da Augusta trancado em algum banheiro, eu sou aquele que come a namorada dos outros.

"Bonzo goes to bitburg /then goes out for a cup of tea

As I watched it on TV /somehow it really bothered me

Drank in all the bars in town/ for an extended foreign policy

Come on Pick up the Pieces!

My brain is hanging upside down/I need something to slow me down

My brain is hanging upside down/and I need something to slow me down"



Por favor me odeiem, me deixem ser odiado!
Que todo o ódio do mundo seja direcionado a mim, para que assim eu possa aceitar
toda essa situação como uma punição pelo cara que eu me tornei e com certeza todo
desprezo que eu recebi seja justificado.

Eu odeio todos vocês!

E sob a fina garoa poluída de São Paulo eu apodreço, sozinho e bêbado cantando Ramones:



"Bonzo goes to bitburg /then goes out for a cup of tea

As I watched it on TV /somehow it really bothered me

Drank in all the bars in town/ for an extended foreign policy

Come on Pick up the Pieces!

My brain is hanging upside down/I need something to slow me down

My brain is hanging upside down/and I need something to slow me down"